Incontinência anal, um problema de saúde com solução
A incontinência é um sintoma mais comum do que se imagina podendo ocorrer em qualquer faixa etária, com predominância em idosos. A vergonha e a falta de comunicação com a família e com os profissionais de saúde podem dificultar o tratamento adequado desta afecção. Também definida como perda do controle voluntário das fezes, é um grande problema social e de higiene. Causa desconforto. Os dados internacionais de prevalência mostram índices que vão de 1,9% até 21,3% da população. O problema aumenta com o avanço da idade. Em Porto Alegre foi evidenciada uma prevalência de de 3,9% na população atendida em Serviço de Saúde.
Definida como a incapacidade de controlar a eliminação pelo ânus, de gases ou fezes de consistência líquida, pastosa ou sólida até o momento desejado. Varia desde pequenas perdas de gás ou líquido até acidentes de maior proporção. Independentemente do volume perdido, o paciente pode sentir-se bastante constrangido e inseguro, o que transforma de maneira substancial sua confiança e comportamento social.
Causas e Diagnóstico
Várias alterações na fisiologia anorretal podem causar incontinência, sendo comum a ocorrência de mais de uma deficiência associada. Como exemplo de distúrbios que podem levar à incontinência, destacam-se os defeitos da musculatura do períneo causados pelo parto vaginal, os traumas, ou as condições associadas a cirurgias anorretais.
Alterações neurológicas também podem causar incontinência, mesmo com a musculatura intacta. É o caso da degeneração do nervo pudendo ou de alterações sistêmicas como o diabetes, que podem influenciar de forma negativa a continência ou controle da função anal.
A velocidade e consistência das fezes que chegam ao reto também podem contribuir para a dificuldade de continência. Proctites (inflamação da mucosa retal) causadas por inflamação ou radioterapia alteram a sensibilidade retal diminuindo a capacidade de acomodação do reto, causando sensação de urgência e aumento na frequência das evacuações. Pacientes portadores de retocele volumosa ou megarreto, as fezes endurecidas em grande quantidade se acumulam no reto causando um tipo de incontinência dita por transbordamento. Pacientes com prolapso retal também podem apresentar incontinência.
A consistência das fezes pode influenciar no desenvolvimento de incontinência fecal, principalmente em pacientes que apresentam algum tipo de déficit muscular, neurológico ou anatômico. Fezes líquidas ou pastosas não são adequadas e a causa desta condição deve ser investigada. Medicamentos podem causar aumento da velocidade do trânsito intestinal e culminar em incontinência. São exemplo os hipoglicemiantes (usados no tratamento de diabetes) e as medicações antidepressivas. O uso indiscriminado de laxativos é outra causa potencial de incontinência.
Outras causas estão associadas ao aumento de gorduras ou açúcares na dieta, a síndrome do intestino irritável, as alterações metabólicas como hipertireoidismo ou diabetes, as cirurgias que diminuem o comprimento intestinal ou do reto ou, ainda, as cirurgias que aceleram o trânsito intestinal, como a extração da vesícula biliar.
Exames complementares podem ajudar no diagnóstico preciso da causa como a manometria anorretal, a ressonância magnética do canal anal ou a ultrassonografia anal. Estes exames podem definir o grau de enfraquecimento ou ruptura muscular, assim como a integridade da inervação e dos músculos do períneo. O exame proctológico e avaliação complementar dos cólons ajudarão a definir outras alterações.
Tratamento
O tratamento nem sempre está baseado em procedimentos cirúrgicos. Ao contrário, são indicados inicialmente correções do hábito alimentar e das medicações usadas pelo paciente. Atualmente são disponíveis tratamentos como os exercícios de recondicionamento do controle anal (biofeedback), que apresentam resultados consideráveis. Em caso com indicação de tratamento cirúrgico, o cirurgião coloproctologista avaliará e definirá a melhor estratégia ou abordagem. Dentre as várias técnicas disponíveis encontram-se a correção do músculo anal rompido, o reforço da musculatura do canal anal enfraquecida ou, inclusive, as técnicas de preenchimento anal, de implante de esfíncter anal artificial ou de estimulação do nervo sacral.
Hoje os tratamentos mais modernos são baseados na neuroestimulação sacral, que consiste em uma opção terapêutica eficaz e segura no tratamento da incontinência anal, para pacientes com falha do tratamento conservador ou em pacientes submetidos à intervenção cirúrgica mal sucedida. O tratamento varia de uma abordagem mais conservadora até uma variedade de intervenções cirúrgicas, como: Recomendações comportamentais, Exercícios de reabilitação perineal, Biofeedback, tratamento medicamentoso, tratamento cirúrgico e neuromodulação sacral.
Ornella Cassol – Médica Coloproctologista CRM 35637 |